Cadeiras de escritório são como sapatos, existe uma para cada gosto, são usadas o dia todo e afetam o nosso conforto.
A diferença, é que no caso das cadeiras, alguém as escolhe por nós.
As primeiras cadeiras de escritório (que se tem notícia)
Segundo o livro "A history of seating" dos autores Jenny Pynt e Joy Higgs, as primeiras evidências documentadas de "artefatos construídos para se sentar", são de 3.000 anos antes de cristo. Escavações, revelaram que já naquela época, buscava-se produtividade no trabalho com pequenas adaptações, para o "melhor sentar".
Graças à arqueologia, descobrimos que os egípcios usavam móveis adequados à execução de diferentes tarefas, como por exemplo, cadeiras para escrever, outras para tecer, martelar, governar, etc... Mostrando que já naquela época, sabia-se que a postura adequada, aumentava a produtividade.
Integrando Engenharia e Biologia
Nos (muitos) anos seguintes, diferentes cadeiras surgiram, fossem apenas para demonstrar "status" (como tronos exageradamente adornados), ou modelos mais funcionais, as cadeiras chegaram à revolução industrial, sem muitas mudanças, e até os anos 1800, pouquíssimas eram "confortáveis", afinal, cadeiras usadas no trabalho, não precisavam ser confortáveis.
Até que, por volta de 1850 nos Estados Unidos, um grupo de engenheiros e médicos, uniram esforços para estudar como as cadeiras poderiam promover saúde e conforto às pessoas, enfatizando a postura e os movimentos corretos do corpo. Nasciam as chamadas "Cadeiras Patente". Nome oriundo do costume de seus projetistas, em patentear todas as invenções aplicadas nas cadeiras.
A cadeira de escritório que melhor representou esse período, foi a "Centripetal Springs", em referência ao seu mecanismo de fixação do assento, que em tradução livre seria algo como, "Poltrona de Mola Central". É considerada por estudiosos, a primeira cadeira moderna de escritório. Projetada em 1849 pelo inventor Americano Thomas E. Warren e produzida pela American Chair Company no estado de Nova York, tinha sua estrutura em ferro fundido, partes de madeira envernizada e estofamento em veludo. Possuía muitas características das cadeiras atuais, como assento giratório, rodízios, apoio de cabeça e descanso para os braços (conforme a versão). Porem, sua característica mais intrigante, era o mecanismo de inclinação, obtido através da flexão de quatro grandes molas de aço em formato de "C", onde o assento era fixado, permitindo a inclinação do seu eixo central em qualquer direção.
A "Centripetal Spring Arm Chair", fez pouco sucesso fora dos Estados Unidos, visto que o pensamento "Vitoriano" vigente na Europa, de "elevados padrões de conduta", considerava a cadeira "demasiadamente" confortável, logo, "imoral". A "doutrina Vitoriana", acreditava que o uso de assentos rígidos e sem apoios, permitia que seus usuários demonstrassem refinamento, força de vontade e moralidade, com a postura cervical ereta ao sentar-se.
Apesar do ceticismo geral sobre as "cadeiras patente", o final do século XIX, foi extremamente inovador no desenvolvimento de cadeiras para escritório. Engenheiros e médicos utilizavam diversos estudos sobre os movimentos do corpo para criar cadeiras que facilitavam tarefas como costura, cirurgia e odontologia. Foi nessa época, que cadeiras com altura e inclinação ajustáveis, bem como regulagens de tensão e mecanismos de inclinação (características que só retornariam às cadeiras de escritório 100 anos mais tarde), foram desenvolvidas. Um ótimo exemplo, é a cadeira do barbeiro, que já anos 1890, possuía sistema hidráulico para abaixar, levantar, girar e inclinar, enquanto as cadeiras para escritório, só receberiam esses recursos em 1950.
Em contraponto à seus pares Europeus, os Americanos estavam bem confortáveis com todos o "balanços" de suas cadeiras. Porem, mesmo proporcionando conforto, as Cadeiras Patente ocupavam os cômodos "obscuros" da casa, longe das salas de estar e jantar, escondidas das visitas.
Mesmo nos escritórios, a "moral vitoriana" prevalecia, e o desconforto (considerado elegante), fazia com que as pessoas até comprassem as "cadeiras patente", mas por vergonha, as deixassem escondidas. Assim, mesmo nos escritórios, as "cadeiras patente" foram rejeitadas pelo mercado.
A cadeira como parte do escritório
Era início dos anos 1900, a energia elétrica trazia conforto ao lar, o automóvel ao trajeto e no trabalho, a cadeira continuava desconfortável. Embora muitas cadeiras com design inovador tenham surgido no início do século XX, o momento continuava desfavorável ao corpo humano e na "disputa" entre conforto e "estética", a estética vencia.
No entanto, o projeto de um novo prédio na cidade de Buffalo nos Estados Unidos, seria o "ponto de virada" na história das cadeiras de escritório. Longe de torná-las confortáveis, o projeto lançou as bases do mobiliário para escritório com viés "utilitarista", abrindo portas às mudanças do futuro.
Quando em 1904, o arquiteto americano Frank Lloyd Wright, projeta o icônico "Larkin Office Building" e junto ao prédio, um conjunto completo de mobiliário (incluindo cadeiras especialmente desenvolvidas para o escritório), Wright inaugura a ideia de que prédio e mobiliário, possuem outras funções, além de somente acomodar pessoas.
Wright não achava que as cadeiras de escritório devessem ser confortáveis, mas sim adequadas a (cada) trabalho, com isso, desenvolveu diferentes modelos de cadeira, para diferentes postos e funções na companhia. A aplicação de ajuste de altura no assento, apoios de braço, rodízios e mecanismos giratórios, eram adotados conforme a atividade do funcionário.
O conceito desenvolvido por Wright nesse projeto, além de ter sido o "berço da indústria moveleira moderna americana", ainda é a base dos projetos de mobiliário corporativo no mundo todo.
Como já contamos em outro "post", o "Edifício Larkin", foi pioneiro no uso de mobiliário integrado ao prédio, pensado conforme o fluxo de trabalho.
Infelizmente o icônico edifício Larkin não existe mais, foi demolido em 1950 para dar espaço a um estacionamento. Todavia, seu legado de inovação permanece até hoje, como por exemplo, o uso de ar condicionado em escritórios, móveis em aço, biombos fixados na parede para facilitar a limpeza do piso, portas de vidro com armações em metal, bem como iluminação, cadeiras e mesas projetadas especificamente para o edifício e as atividades nele exercidas.
No próximo post, continuaremos nossa jornada na história das cadeiras para escritório, com um fabricante que colocou muitos dos nossos avos para "ninar"...
REFERENCIAS
http://www.slate.com/articles/life/design/2012/05/ergonomic_office_chairs_a_visual_history_photos_.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Centripetal_Spring_Armchair
https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/188120
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