Quando analisamos a história de humanidade "dentro da história", é difícil perceber as mudanças. Somente com o devido distanciamento, conseguimos perceber as transformações. Sem a intenção de "bancar" o historiador e ainda sem o distanciamento histórico adequado, acredito que estamos vivendo um momento de transformação, quanto à maneira de como trabalhamos e como o mobiliário de escritório se relaciona conosco.
Quando olhamos para a história do mobiliário para escritório (com o seu devido distanciamento), observamos as mudanças de comportamento, cultura e avanços tecnológicos de cada época, e a consequente transformação do espaço de trabalho.
Os primeiros registros de mobiliário construído especificamente para escritório, datam do século XIII, dentro de edifícios monásticos, como as mesas em que os monges usavam para copiar as bíblias manualmente.
Com a chegada do período da Renascença (século XIV), o dogmatismo religioso e o misticismo, cedem espaço à revalorização da ciência dentro da sociedade, nesse contexto, surgem os primeiros prédios comerciais e o mobiliário "para escritório", deixa de ser uma exclusividade da igreja tornando-se parte da vida de mais pessoas.
Data desse período, a primeira construção para abrigar exclusivamente escritórios. Atualmente um Museu, na cidade de Florença na Itália, o "Palácio Uffizi, foi originalmente concebido como um centro de comércio e negociação de mercadorias, com salões para exposição de produtos no térreo e salas de escritórios nos andares superiores.
Mas foi durante a revolução industrial, no fim do século XIX, que o mobiliário de escritório realmente teve um grande impulso. Com os escritórios empregando grande quantidade de mão de obra para dar suporte às atividades manufatureiras, nomes de referência da organização industrial da época como, Frederik Taylor, Henri Ford e Henry Fayol, acabaram por influenciar em como os escritórios deveriam ser. Com estudos voltados para racionalização e aumento da eficiência e produtividade.
Dessa maneira, os escritórios se tornam extensões das linhas de produção, onde cada indivíduo, executa sua atividade especializada, sendo que o trabalho "passa para o próximo", que em conjunto realizam atividades complexas, assim como a linha de produção de um carro, onde cada operário especializado, realiza uma pequena parte do trabalho.
Dessa maneira, surgem layouts de escritório, organizados de maneira rígida, onde cada funcionário ocupa um lugar específico, em relação à sua atividade dentro do processo e da hierarquia, sendo que os funcionários de baixo escalão se situavam em um grande salão com pé direito alto, e seus chefes nos andares superiores com grandes janelas, onde exerciam (ou pelo menos aparentavam exercer, o que na maioria das vezes já é o suficiente), um controle permanente dos seus trabalhadores.
No início do século XX, com o emprego do aço na construção de prédios, surgem prédios mais altos, criam-se plantas livres de paredes estruturais e retiram-se as pilastras da fachada, aumentando a área envidraçada e permitindo uma maior entrada de luz natural nos escritórios. Com estas novas edificações, surgem layouts mais flexíveis, e pela primeira vez na história, foi possível pensar no mobiliário corporativo além das escrivaninhas, permitindo que o mobiliário integre-se com a arquitetura.
Foi também nesse século, que surgiram os primeiros escritórios abertos, sendo a divisória uma grande protagonista desse período. Temos um post, (link no final da matéria) que conta em mais detalhes a "jornada" das divisórias nos escritórios.
É neste período também, que "nascem" os primeiros móveis para escritório modulares, pensados de maneira integrada (superfície de trabalho, arquivamento, divisão), como sistemas interligados para formar diferentes layouts, visto que sem as paredes, os móveis assumem também este papel. Temos um post, (link no final da matéria) que detalha um pouco mais esse conceito, bem como as duas vertentes desse tipo de layout (americana, focada na concentração e produtividade, e a europeia com uma visão mais humanista) .
O escritório contemporâneo, ainda é uma evolução do escritório aberto do século passado.
Porem, estamos vivenciando um momento de transformação em como podemos pensar o mobiliário para escritório, para o próximo século.
Com o avanço das tecnologias digitais, muitos gestores perceberam que não é mais necessário estar próximo fisicamente dos seus colaboradores, para saber como está o andamento das atividades, além disso, com a digitalização, o resultado do nosso trabalho não trafega mais fisicamente, o que "derruba" a necessidade de um arranjo físico, baseado nas atividades.
Computadores portáteis (notebooks, tablet e até mesmo os nossos celulares), conectam-se, sem a necessidade de fios, e com o aumento da velocidade na internet móvel, o lugar em que estamos, deixa de ser relevante no nosso trabalho.
Muitas empresas entendem não ser mais necessário uma estação de trabalho fixa e exclusiva para cada um, já que o colaborador pode exercer seu trabalho em qualquer lugar.
É claro que ainda precisamos aprender como usar adequadamente tais recursos, e não acredito que o trabalho possa ser 100% a distância, seja por conta da atividade, seja pela natureza humana em se socializar. Dito isso, o escritório ainda é o melhor meio de reunir pessoas em colaboração para um propósito. Porem vivemos um momento de avanço tecnológico e social que não está totalmente refletido no mobiliário para escritório.
Como eu disse, o escritório ainda é o melhor lugar para a colaboração humana, porem, muitas "amarras" deixaram de existir, e designers, arquitetos e clientes, podem conceber escritórios sem essas "amarras".
O escritório moderno, pode ser menos "processual" e mais "colaborativo".
Se pensarmos no escritório com mesas "sem dono" e livre de departamentos, o mobiliário do escritório, pode ter outros propósitos, com arranjos voltados para colaboração em detrimento da competição.
Não precisamos "inventar a roda", afinal já existem moveis dedicados a receber, reunir, concentrar, treinar, etc.... O que deve acontecer nos próximos anos, é a redistribuição dos espaços no layout, dedicados a cada uma das atividades.
O mercado ainda não tem todas as respostas, mas se para boas respostas, precisamos de boas perguntas, quero contribuir com os meus "2o centavos" à essa discussão:
E se os lugares onde os colaboradores sentam no escritório, não for definido de acordo com a sua especialidade (departamentos), e sim de acordo com o projeto em que estão envolvidas naquele momento?
E se, as reuniões de trabalho tiverem a dinâmica de um jogo de tabuleiro?
E se, projetistas puderem colaborar simultaneamente em um mesmo arquivo em tempo real, em uma grande mesa de reunião?
E se, eu deixar o resto da lista, por conta de vocês...
E se, vocês deixarem ideias nos comentários desse post, para continuarmos com essa conversa?
E se....?
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