Nos últimos meses, “pipocou” na mídia, diversas séries, matérias e documentários, sobre a tragédia ocorrida na boate Kiss, que completou agora em janeiro de 2023, exatos 10 anos. Muito se tem falado (e comovido as pessoas), com relação aos mortos (todos jovens), do extenso julgamento dos réus (e dos não réus), bem como a tragédia em si.
Porem, neste “post”, gostaria de aproveitar o engajamento que a “efeméride” nos proporciona, para refletir sobre a responsabilidade de todos aqueles que realizam projetos, em especial projetos de layout para escritório, sobre a necessidade de sempre observarmos aspectos como a circulação, rotas de fuga, emprego de materiais “anti-chama”, uso de tecidos nos biombos e cadeiras que não emitem fumaça tóxica, e acima de tudo, sempre (não só pela possibilidade de acidentes, mas também pelo “bem estar” dos usuários), nos colocarmos no lugar de quem irá ocupar o espaço que estamos projetando.
Há algum tempo atrás, escrevi um roteiro (vou deixa o link no final do post), com fórmulas práticas de como calcular a largura dos corredores de passagem, em função da ocupação do espaço, levando em conta o conforto e a segurança dos ocupantes da edificação. Inclusive, este é uma das postagens mais acessada do blob.
No entanto, como cada estado, possui legislações específicas, com relação à prevenção e combate à incêndio, utilizo as normas do corpo de bombeiros do Rio Grande do Sul, que (até por conta da tragédia ter ocorrido neste estado), atualmente possui as regras mais rígidas, com relação à prevenção e combate ao incêndio.
Uso essa estratégia, pois como atendemos todo o Brasil, se projetarmos de acordo com as regras mais rígidas, atendemos à legislação de todo o país. Porem, é importante (em especial, quando o escopo do projeto, for além do layout do mobiliário), sempre consultar a legislação do seu estado, bem como, eventuais leis municipais, que podem muitas vezes, contar com especificidades, em função do código de obras do município.
De qualquer forma, abaixo, seguem um roteiro prático, válido para qualquer localidade, que pode funcionar como um “check-list”, na hora que você estiver projetando um escritório:
01- Verificar as normas aplicáveis:
É importante verificar as normas específicas aplicáveis à edificação ou espaço que está sendo projetado. As normas podem variar de acordo com o tipo de uso e a localização da edificação.
02- Analisar o projeto:
Analise o projeto da edificação ou espaço para identificar os pontos críticos que possam colocar em risco a segurança contra incêndio, como a localização de saídas de emergência, extintores, sistemas de alarme e iluminação de emergência. Bem como pense em quais serão as rotas de fuga "naturais", certificando-se que elas são claras, e óbvias. Procure se colocar no lugar de quem está usando o espaço, e imagine se você naturalmente seguiria a rota de fuga correta, independente da sinalização (mesmo que ela exista). Um ótimo exemplo, são as escadas dos prédios mais novos, que sempre terminam no térreo, e que para descermos até o subsolo, é preciso sair por uma porta, e acessar uma segunda porta, para que possamos descer para o subsolo, mesmo havendo sinalização de emergência.
03- Definir a classificação de risco:
Defina a classificação de risco da edificação ou espaço, que é determinada pela quantidade de pessoas presentes no local, o tipo de atividade realizada e os materiais presentes no ambiente. Essa classificação é importante para determinar as medidas de segurança necessárias.
Nesta etapa do projeto, você pode aproveitar para calcular o fluxo de pessoas, e verificar se todos os corredores de passagem, atendem à distâncias mínimas (seja entre paredes, seja entre o mobiliário), vou deixar um link para todos os posts do blog, que podem te ajudar nessa tarefa.
04- Definir a planta de risco:
A planta de risco é um desenho que representa graficamente as medidas de segurança contra incêndio adotadas na edificação ou espaço. A planta de risco deve conter informações como a localização das saídas de emergência, dos extintores de incêndio, dos hidrantes, dos sistemas de alarme e iluminação de emergência. Mas lembre-se que, mesmo existindo a planta de risco, você precisa projetar a edificação, considerando que as pessoas irão "ignorar" tal documento, mesmo que ele esteja fixado em lugar visível dentro da edificação.
05- Elaborar o projeto:
Com base nas informações coletadas, elabore o projeto de segurança contra incêndio da edificação ou espaço, que deve contemplar as medidas de segurança necessárias para minimizar os riscos de incêndio e garantir a segurança das pessoas presentes no local.
06- Obter aprovação dos bombeiros:
Após a elaboração do projeto, submeta-o à aprovação dos bombeiros. Eles avaliarão o projeto e verificarão se ele está de acordo com as normas aplicáveis. Se estiver, será emitido o certificado de aprovação.
07- Implementar as medidas de segurança:
Após a aprovação do projeto, implemente as medidas de segurança indicadas no projeto, seguindo as orientações dos bombeiros. Realize a manutenção regular dos equipamentos e sistemas de segurança, a fim de garantir que estejam sempre em condições de uso.
Muito provavelmente, se você é um profissional de projeto (assim como eu) , já não estará mais envolvido com esta etapa da implantação. Porem, gostaria de dar o meu testemunho, de que a experiência de fazer parte da brigada de combate à incêndio aqui da empresa, e ter participado de todos os treinamentos necessários para ser um brigadista, melhorou muito a qualidade dos meus projetos de layout de escritório.
Então, se você, como projetista, arquiteto, decorador ou engenheiro civil, tiver a oportunidade de participar das atividades da brigada de incêndio da empresa que trabalha, tenho certeza que será valioso para melhorar a consciência na elaboração dos seus projetos.
Mas caso, você não tenha esta oportunidade, você poderá dar uma "espiada" na lei federal n° 11.901/2009, que regulamenta a atividade de bombeiro civil (necessário para algumas edificações de alta densidade, ou empresas com grande número de funcionários, e ou, atividades consideradas de risco (com indústrias químicas, petroquímicas, de alimentos, etc...), que também pode ser uma "boa pedida".
Apesar dessa lei, não ser voltada para o projeto predial, ou layout, podemos extrair boas dicas, prevendo futuras necessidades, através da sua leitura.
Espero ter ajudado um pouco, mas principalmente espero ter colaborado para uma cultura de prevenção de acidentes no escritório, jogando um pouco de luz, no quanto a atividade de projetar, precisa ser responsável, e principalmente valorizada.
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